Você sabe o que é toró?

27/03/2025 15:55

 

Toró: O termo, de origem tupi-guarani, significa “chuva forte como um jato d’água” e é amplamente empregado no Brasil para descrever precipitações intensas e de curta duração, frequentemente acompanhadas por trovões e raios.
No decorrer de minha trajetória acadêmica, identifiquei que a redescoberta do fenômeno denominado “toró” representa uma das contribuições mais relevantes do meu trabalho. Em uma apresentação recente na American Geophysical Union (AGU), realizada em Washington, EUA, introduzi o conceito de “toró” como um novo tipo de risco atmosférico. Esse fenômeno, inspirado na tromba d’água regional, refere-se a uma precipitação extremamente localizada e intensa, responsável por provocar um tipo específico de erosão hídrica que deixa cicatrizes geomorfológicas retas nas encostas montanhosas.
O ponto de partida dessa pesquisa foi um fenômeno extraordinário narrado por meu pai, Baldino Haas, ocorrido em janeiro de 2011. Na ocasião, um inexpressivo riacho em Vidal Ramos, SC, apresentou uma afluência maior que a do rio Itajaí, chamando atenção para os impactos das chuvas intensas e localizadas, chamado na época de tromba de água.
Diferente de eventos como cloudbursts e rainstorms, o “toró” possui características hidrológicas e geomorfológicas específicas, como a “tromba” (erosão linear) em encostas e “trombudo” ou enchente cabeça de água nos rios. Esse termo foi incorporado à toponímia, mas seu significado se perdeu com o tempo.
Em meio a esses eventos, é interessante notar que, no passado, o toró ou tromba de água era um fenômeno meteorológico bem conhecido pelos primeiros moradores de Blumenau, por volta de 1860. O som distintivo produzido por este tipo de chuva, muitas vezes semelhante a um trovejar contínuo, servia como um alarme natural para alertar a população sobre a iminência de chuvas torrenciais e o risco de enchentes.
Esse conhecimento era transmitido pelos povos indígenas de geração em geração, desempenhando um papel crucial na preparação e proteção das comunidades contra as frequentes chuvas intensas. No entanto, com o tempo e a modernização dos métodos de comunicação e previsão meteorológica, essa sabedoria ancestral foi gradualmente esquecida, e o uso do som da chuva forte como alerta natural caiu em desuso. O esquecimento dessa prática tradicional destaca a importância de valorizar e preservar os conhecimentos locais e históricos, que muitas vezes são repletos de sabedoria e adaptados ao ambiente regional.
Na moderna meteorologia, o termo “tromba d’água” está frequentemente associado a uma coluna de ar rotativa carregada de água que se forma sobre uma superfície aquática, geralmente durante tempestades. Essas trombas são fenômenos intensos e localizados que podem causar danos significativos quando tocam a terra.
Curiosamente, tanto “toró” quanto “tromba d’água” têm suas raízes linguísticas no antigo Tupi. A palavra “toró” era originalmente dita como “tororó” ou “toromba”. No passado, esses termos foram ressignificados para descrever diferentes tipos de fenômenos meteorológicos intensos, refletindo o entendimento e a observação dos povos indígenas sobre o comportamento das chuvas na região. Essa ressignificação demonstra como a linguagem e o conhecimento ancestral se adaptam e evoluem, preservando a essência e a sabedoria enraizadas no tempo.